Eu não queria nem desses amores sublimes de poeta, de romance idealizado, de música bonita.
Também não precisava ser desses amores de brasa, de carne.
A gente não precisava dessas coisas extraordinárias, a gente se fazia extraordinário.
Gosto de falar da gente, que até parece um só, até parece fácil e pertinho. O problema é que a vida complica tudo e a gente acha que não dá pra levar. Mas a gente faz de conta que dá.
Vamos fazer assim, cê me dá a mão e a gente vai. Simples, ué. Não tenta complicar, sem "mas". Aí a gente não se perde de vista, não se perde de toque.
A gente passa o dia deitado respirando o ar do outro e reclamando disso, mas não fazendo nada pra mudar porque tá bom assim. A gente reclama só para matar o tempo mesmo.
A gente tem coisas em comum. Ou talvez nem tanto. A gente conversa sobre nada. A gente conversa sobre a gente. Certeza que pelo menos isso temos em comum: o nada e a gente.
Cê me leva pra passear e me conta das coisas que cê sabe. A gente senta no chão, divide um lanche e eu te conto uma história pra te fazer sorrir.
Você me ajuda nuns trabalhos, eu te ajudo nuns trabalhos, e troca uns beijos no caminho.
A gente se interfere, influencia, atrapalha, convive.
A gente dá comida pra uns cachorros da rua e leva pra casa um dia.
A gente rega umas plantas e deixa os passarinhos fazer ninho.
A gente faz o nosso ninho.
Pintamos as paredes - eu espirro e você ri.
Limpamos a casa - você espirra e eu rio.
Não tem graça em espirrar. Tem graça em rir. A gente ri a veras. A gente tem certa graça. Silogismo bobo. A gente ri.
A gente faz uns duetos meia boca. Mas, na verdade, eles são os melhores.
Eu te suporto nesses sonhos de crianção. Você dá esse sorriso.
Tu me suporta nesses devaneios de criancinha. Eu fico rindo.
A gente se observa, se analisa, se participa, se entende.
A gente troca uns colos de vez em quando. Quase sempre.
E quando a gente briga, o mundo da gente desanda. Mas a gente volta. A gente sempre volta; e o mundo também. Equilíbrio não é estático; a gente muito menos.
Eu carrego os teus filhos, você me ajuda com o peso.
Você cuida dos meus filhos, eu te ajudo com o caminho.
A gente enche eles de sonhos e desse negócio que a ente partilha e chama de amor. A gente ensina, educa, protege e deixa eles ser feliz. São os filhos da gente.
A gente construiu tudo isso. Na base dos sonhos. Na base do amor. Na base da gente.
A gente só precisa de cultivo.
A gente só precisa ser real.
Cê me dá a mão?
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Interditado
Passeio na Lapa
Na chapa do pão
Um tapa na cara
Do pobre chorão
Periferia calada
Se joga no chão
Tiro na estrada
Polícia ou ladrão?
Cuidado com a terra
Que não te pertence
A expulsão te espera
E vem de repente
Pobre do pobre
Com sina ruim
Trabalha, trabalha
E espera seu fim
Na chapa do pão
Um tapa na cara
Do pobre chorão
Periferia calada
Se joga no chão
Tiro na estrada
Polícia ou ladrão?
Cuidado com a terra
Que não te pertence
A expulsão te espera
E vem de repente
Pobre do pobre
Com sina ruim
Trabalha, trabalha
E espera seu fim
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