Absorvo tua essência vigorosa
Até que se dissolva em meus lábios
E penetre as mucosas de minha memória.
Atenuas a dor e a solidão,
De tal forma que as desprezo constantemente.
Porém, distante de teus olhos,
A tristeza sufoca-me mais que teus abraços.
És obsessão aterradora
Que transporta princípios
E traz consigo o mais puro e irrefreável desejo.
Escancara minha mente para as mais amplas ideias,
E paralisa-me com o medo:
O terror de prosseguir com esta loucura.
Entretanto, de bom grado abstenho-me da sanidade
Se alternarmos o pertencimento de nossas almas
Em uma congruência sem fim.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
sexta-feira, 16 de maio de 2014
A Essência da Agonia
Visitaste o receptáculo do vazio,
Tocaste minha pele sem temor.
Faça-me despir esta dor,
Mas não sem antes permitir que eu sinta esta última agonia.
Dei-lhe meu fôlego mais profundo,
Provocaste a mais obscura obsessão,
E preencheste ainda a solidão da alma
Com seu veneno de pura satisfação.
Diante das piscinas sem cor de teus olhos
Eu implorei que permanecesse.
E, como se nunca ousasse aparecer,
Partira.
Tocaste minha pele sem temor.
Faça-me despir esta dor,
Mas não sem antes permitir que eu sinta esta última agonia.
Dei-lhe meu fôlego mais profundo,
Provocaste a mais obscura obsessão,
E preencheste ainda a solidão da alma
Com seu veneno de pura satisfação.
Diante das piscinas sem cor de teus olhos
Eu implorei que permanecesse.
E, como se nunca ousasse aparecer,
Partira.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Crônica do Terapeuta
Lucia entrou no consultório batendo as portas, dispensou os cumprimentos educados da secretária e ignorou os demais pacientes. Contrariamente, seu terapeuta recebeu-a com um sorriso conformado:
- Surpreende-me! Como você está?
- Caso estivesse bem, lhe traria flores ou chocolates, ou nem ao menos me daria ao trabalho de vir.
- O que lhe perturba?
- Estou louca, doutor! Louca! - bateu as mãos na mesa.
- Isto não está anotado nos meus diagnósticos. - ele analisou calmamente um bloco repleto de informações apenas da mulher.
- Então anote! Ora, doutor! Não é nem capaz de anotar o mais óbvio! Por que ainda me consulto com o senhor?
- Mas, Lucia...
- Deixe-me falar!
- Pois que fale. - suspirou cansado daquela situação que se repetia constantemente.
- O que digo não tem sentido algum, distraio-me com o que há de mais desprezível, penso sempre nas mesmas situações e até sonho com elas, doutor! - deixou-se cair na poltrona macia, frustrada. - Além disso, estou apaixonada por um estranho.
- É apenas uma paixão platônica. Não é a primeira vez que acontece.
- Mas é claro que é! Dessa vez é diferente! - Lucia cruzou os braços.
- Sempre é diferente, mas sempre é igual.
- É diferente de verdade, doutor. Eu o conheci antes.
- Então como pode ser um estranho?
- Exatamente! Como posso amá-lo assim? - ela respirou fundo e pegou alguns doces que haviam no pote sobre a mesa, mastigando-os nervosamente.
- Ama-o pelo que conheceu.
- Mas nem ao menos me recordo! Recordo-me apenas de sua alma...
- Alma?
- Sim, eu a vi claramente! Inacreditável, não é? - ela sentou-se de forma mais ereta e sorria, os lábios brilhando com o açúcar dos doces.
- Lucia, você tomou seus remédios? - o médico mexeu em sua gaveta, preparando-lhe as doses.
- Já tomei, e pare de me oferecer remédios! De nada ajudam. - ela ergueu-se, recuperando sua irritação e jogando a dose no carpete.
- Não minta para mim.
- Como quiser: não tomei nada. Mas também não irei me medicar!
- E por quê?
- Porque sou louca e loucos não obedecem ordens.
O terapeuta respirou fundo, bebeu um gole de seu café e prosseguiu, já acostumado com a ladainha da paciente.
- Lucia, como posso trata-la se você não toma os medicamentos que receito? Se nem ao menos procura se acalmar?
- Porque você não me ouve, doutor!
- Como não?
- Sou louca! Tão louca que o senhor não reparou nem no pior!
- E o que é?
- Todo este tempo, eu estive falando sozinha.
- Surpreende-me! Como você está?
- Caso estivesse bem, lhe traria flores ou chocolates, ou nem ao menos me daria ao trabalho de vir.
- O que lhe perturba?
- Estou louca, doutor! Louca! - bateu as mãos na mesa.
- Isto não está anotado nos meus diagnósticos. - ele analisou calmamente um bloco repleto de informações apenas da mulher.
- Então anote! Ora, doutor! Não é nem capaz de anotar o mais óbvio! Por que ainda me consulto com o senhor?
- Mas, Lucia...
- Deixe-me falar!
- Pois que fale. - suspirou cansado daquela situação que se repetia constantemente.
- O que digo não tem sentido algum, distraio-me com o que há de mais desprezível, penso sempre nas mesmas situações e até sonho com elas, doutor! - deixou-se cair na poltrona macia, frustrada. - Além disso, estou apaixonada por um estranho.
- É apenas uma paixão platônica. Não é a primeira vez que acontece.
- Mas é claro que é! Dessa vez é diferente! - Lucia cruzou os braços.
- Sempre é diferente, mas sempre é igual.
- É diferente de verdade, doutor. Eu o conheci antes.
- Então como pode ser um estranho?
- Exatamente! Como posso amá-lo assim? - ela respirou fundo e pegou alguns doces que haviam no pote sobre a mesa, mastigando-os nervosamente.
- Ama-o pelo que conheceu.
- Mas nem ao menos me recordo! Recordo-me apenas de sua alma...
- Alma?
- Sim, eu a vi claramente! Inacreditável, não é? - ela sentou-se de forma mais ereta e sorria, os lábios brilhando com o açúcar dos doces.
- Lucia, você tomou seus remédios? - o médico mexeu em sua gaveta, preparando-lhe as doses.
- Já tomei, e pare de me oferecer remédios! De nada ajudam. - ela ergueu-se, recuperando sua irritação e jogando a dose no carpete.
- Não minta para mim.
- Como quiser: não tomei nada. Mas também não irei me medicar!
- E por quê?
- Porque sou louca e loucos não obedecem ordens.
O terapeuta respirou fundo, bebeu um gole de seu café e prosseguiu, já acostumado com a ladainha da paciente.
- Lucia, como posso trata-la se você não toma os medicamentos que receito? Se nem ao menos procura se acalmar?
- Porque você não me ouve, doutor!
- Como não?
- Sou louca! Tão louca que o senhor não reparou nem no pior!
- E o que é?
- Todo este tempo, eu estive falando sozinha.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Soneto ao Sentir
Liberte agora o suspiro sem fim.
A dormência adormece
E a beleza que fere
Se apodera de mim.
Força que queima,
Reina, treina o sentir.
Apetece-me o dia
Que não me embriago de ti.
Entorpece-me os sentidos.
Que leve contigo
Toda a razão.
Se puder, livre-se dela, descarte, que mate.
Apenas trate de prolongar
A pungente sensação.
Texto por: Lucia Cordato
Cantiga ao Mau Amigo
Partiste, sem hesitar.
Voltaste, sem refletir.
Jamais soubera amar,
Jamais se quer soubera sentir.
Oh, gentil senhor,
Tu não te preocupaste
Nem ao menos em provar teu valor.
Menos ainda em privar-me da dor.
Galante mentira,
Para que se acomodaste
Já ciente da vindoura despedida?
Inesperada atração,
Para que tão pungente
Se não és concreta até então?
Texto por: Lucia Cordato
Voltaste, sem refletir.
Jamais soubera amar,
Jamais se quer soubera sentir.
Oh, gentil senhor,
Tu não te preocupaste
Nem ao menos em provar teu valor.
Menos ainda em privar-me da dor.
Galante mentira,
Para que se acomodaste
Já ciente da vindoura despedida?
Inesperada atração,
Para que tão pungente
Se não és concreta até então?
Texto por: Lucia Cordato
Ao Menos Por Um Momento
Camuflou-se sob o manto da ausência.
Calçou o ódio que sentia,
Caminhou sob os que lhe amavam.
Diga-me o preço da solidão,
Que, ao menos por um momento,
Hei de vendê-la.
Ao menos por um momento,
Que me tome por sua,
Desde que esteja completo.
Mesmo que seja por meu próprio delírio:
Do mais primitivo ao recém desperto.
Não quero um só pedaço
Ou o mais vulgar dos teus restos.
Quero-te sem limitações,
Quero-te inteiro.
Não quero suportar a culpa que me concedeste.
Mas, acima de tudo,
Não quero carregar o peso do teu vazio.
Quero-te da forma mais absoluta,
E, ainda assim,
Da forma mais livre de todo arrependimento e hesitação.
Nem que seja ao menos por um momento.
Texto por: Lucia Cordato
Produzido em: 01/05/2014
Calçou o ódio que sentia,
Caminhou sob os que lhe amavam.
Diga-me o preço da solidão,
Que, ao menos por um momento,
Hei de vendê-la.
Ao menos por um momento,
Que me tome por sua,
Desde que esteja completo.
Mesmo que seja por meu próprio delírio:
Do mais primitivo ao recém desperto.
Não quero um só pedaço
Ou o mais vulgar dos teus restos.
Quero-te sem limitações,
Quero-te inteiro.
Não quero suportar a culpa que me concedeste.
Mas, acima de tudo,
Não quero carregar o peso do teu vazio.
Quero-te da forma mais absoluta,
E, ainda assim,
Da forma mais livre de todo arrependimento e hesitação.
Nem que seja ao menos por um momento.
Texto por: Lucia Cordato
Produzido em: 01/05/2014
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