sábado, 19 de dezembro de 2015

Eu sou a Terra dos Sonhos

Eu sou o tudo
Eu sou o nada
Eu sou o vagar por esta estrada.

 
Construída de sonhos e objetivos vãos
Trabalho acorrentada em prol da imagem, não da ação

 
Fere-me a percepção do perecimento do sonhar
Como matéria apodrecida que um dia já teve vida

 
Não sou o céu
Não sou o chão
Faço parte dessa complexa rede de pura ilusão

 
Não há brilho de diamante
Que dirá brilho de estrela
Que expressa por mim essa pequena centelha
Centelha que não satisfaz os desejos do mundo

 
Sou poeira do Universo
Potencial a ser explorado, sentido, tocado
Nos quatro cantos procurado
É seu sentido

 
Frases feitas martelam a mente
Renegada criança, as lágrimas secou
Um dia talvez, amada será se o destino a perdoou

 
Desperte, se erga
Encontre a razão
Acredite na força da mão
Ponha fé no que são

 
Refaça o Universo
Para ti, para outrem.
Harmônico, o bem e o mal.
Aconchega-se na terra e no mar
Desfrute o lar em que está

 
Seja bem vindo a mim
Pois que eu sou a Terra dos Sonhos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Mas eu gosto da chuva...

  Mas eu gosto da chuva. Apesar de molhar minhas roupas e passar-me frio, é delicioso para mim sentir as gélidas gotas entrarem em contato com meu corpo. Apesar de trazer-me lembranças, mostra-me que o eterno também passa. E que tudo possui uma beleza, uma necessidade, algo bom.

domingo, 1 de novembro de 2015

Recado da Minha Culpa


  É culpa tua: todo mundo sabe. É teu orgulho maior que teu ímpeto de ser feliz. Essa impulsividade só te carrega pra fossa, mas não te empurra pra voar não. Tu sabes disso, só estou reafirmando isso pra que tu não esqueças. Você não quer incomodar, quer manter teus valores, quer sofrer pelo sofrimento alheio, mantém a palavra mesmo que isso te fira. Honrada e infeliz. Esse é o objetivo da vida, é claro.

  Mas e se as escolhas fossem outras? Provavelmente você seria uma sem palavra, mas com um pouco mais de histórias. Não feliz ainda. Nada muito melhor. Tu é que se afeta à toa.

  “Não está fácil pra ninguém” eles dizem. Pra uns está pior do que pra outros. Pra ti não está nem tão ruim. Tu sabes. De qualquer forma, aproveite a estadia nessa tua fossa.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A Gente

  Eu não queria nem desses amores sublimes de poeta, de romance idealizado, de música bonita.
  Também não precisava ser desses amores de brasa, de carne.
  A gente não precisava dessas coisas extraordinárias, a gente se fazia extraordinário.
  Gosto de falar da gente, que até parece um só, até parece fácil e pertinho. O problema é que a vida complica tudo e a gente acha que não dá pra levar. Mas a gente faz de conta que dá.
  Vamos fazer assim, cê me dá a mão e a gente vai. Simples, ué. Não tenta complicar, sem "mas". Aí a gente não se perde de vista, não se perde de toque.
  A gente passa o dia deitado respirando o ar do outro e reclamando disso, mas não fazendo nada pra mudar porque tá bom assim. A gente reclama só para matar o tempo mesmo.
  A gente tem coisas em comum. Ou talvez nem tanto. A gente conversa sobre nada. A gente conversa sobre a gente. Certeza que pelo menos isso temos em comum: o nada e a gente.
  Cê me leva pra passear e me conta das coisas que cê sabe. A gente senta no chão, divide um lanche e eu te conto uma história pra te fazer sorrir.
  Você me ajuda nuns trabalhos, eu te ajudo nuns trabalhos, e troca uns beijos no caminho.
  A gente se interfere, influencia, atrapalha, convive.
  A gente dá comida pra uns cachorros da rua e leva pra casa um dia.
  A gente rega umas plantas e deixa os passarinhos fazer ninho.
  A gente faz o nosso ninho.
  Pintamos as paredes - eu espirro e você ri.
  Limpamos a casa - você espirra e eu rio.
  Não tem graça em espirrar. Tem graça em rir. A gente ri a veras. A gente tem certa graça. Silogismo bobo. A gente ri.
  A gente faz uns duetos meia boca. Mas, na verdade, eles são os melhores.
  Eu te suporto nesses sonhos de crianção. Você dá esse sorriso.
  Tu me suporta nesses devaneios de criancinha. Eu fico rindo.
  A gente se observa, se analisa, se participa, se entende.
  A gente troca uns colos de vez em quando. Quase sempre.
  E quando a gente briga, o mundo da gente desanda. Mas a gente volta. A gente sempre volta; e o mundo também. Equilíbrio não é estático; a gente muito menos.
  Eu carrego os teus filhos, você me ajuda com o peso.
  Você cuida dos meus filhos, eu te ajudo com o caminho.
  A gente enche eles de sonhos e desse negócio que a ente partilha e chama de amor. A gente ensina, educa, protege e deixa eles ser feliz. São os filhos da gente.
  A gente construiu tudo isso. Na base dos sonhos. Na base do amor. Na base da gente.
  A gente só precisa de cultivo.
  A gente só precisa ser real.
  Cê me dá a mão?

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Interditado

Passeio na Lapa
Na chapa do pão
Um tapa na cara
Do pobre chorão

Periferia calada
Se joga no chão
Tiro na estrada
Polícia ou ladrão?

Cuidado com a terra
Que não te pertence
A expulsão te espera
E vem de repente

Pobre do pobre
Com sina ruim
Trabalha, trabalha
E espera seu fim

domingo, 26 de julho de 2015

Margarida

Não chores, Margarida
Pois pecado algum, em sobriedade, cometeu
Teu pecado foi esquecido
Pois que o fez quando a loucura lhe acometeu

Nunca de ti foi digno
Apenas elogiando a tez
Queria lhe ser amigo
Bem querendo mal lhe fez

Deflorar-te não foi erro
Julgaram-te: eis a questão
Deixou-se abater em medo
Forçou-se à solidão

Tuas pétalas tornaram-se lágrimas
Seu rosto hão de adornar
Imploraste o perdão com lástima
Em paz, voltará ao lar


Por: Maria Clara L.

domingo, 28 de junho de 2015

O Gênio

Indecifráveis e profundos
Portais são olhos de poeta
Sem luar, estou no escuro
Sem que fazer, entrei na cela.

Despreparada afrontei o medo
Proveitosa sensação
Abri a porta ao desespero
Pedi auxílio, disse-me não

Meu afeto lhe dedico e sua dedicação me afeta
Mas quando em solidão me encontro
Temo estender-lhe a mão e adiantar-lhe a queda

De intrusa, ouvi teus pensamentos, sentimentos, emoção
Reagiste e mostraste o monstro
Mas o aprouve-me o anjo de compaixão


Por: Maria Clara L.

domingo, 21 de junho de 2015

Morada

Vivia em esfera lustrosa
A dama que se importava
Cena triste não podia ver
Pois que em choro se debulhava

Casinha de pau a pique
Na foto era ilustrada
A moça derramou as lágrimas
E a casa foi desmanchada

Senhora, seque os olhos
Sai de tua eterna estada
Pois choro algum um dia
Reconstruiu uma morada


Por: Maria Clara L.

terça-feira, 3 de março de 2015

Dona Capitolina

Capitu passa sem saber,
Sem intentar tomar-me
Com esses olhos de ressaca.

Capitu caminha sem perceber
Que meu olhar intruso
Acompanha-lhe na estrada.

Suas costas esguias
Fascinam quem vê.
Sua pele dourada
Tenta quem lhe sente.

Seu rosto ilumina
O próprio amanhecer.
Seus olhos afogam
O marujo experiente.

Mas a senhora não me nota e se vai.
E permaneço a pensar no que nela me atrai.

Dona Capitolina parte então sem entender
Minha admiração e encanto pela beleza de seu ser.


Por: Maria Clara L.