Eu retornei à casa onde nasci e acreditei que eu ainda conhecia algo.
Não sabia onde estavam as tomadas, as paredes estavam mudadas e embora a porta do quarto, os suportes das redes, e alguns armários continuassem os mesmos, eles eram apenas objetos. não eram meus. Busquei com os olhos ávidos apenas uma coisa: minhas marcas de altura em uma pilastra. Não estavam lá. Massa corrida escondia minhas memórias. Quis chorar. Briguei comigo mesma mentalmente: que adianta bancar a não-materialista se quer chorar pela ausencia de traços de giz? Eu não tenho mais a mesma altura, nem a mesma casa, nem a mesma vidas.
Tudo muda e, um dia, assim como as memórias, toda a matéria será carregada pelo vento. Pelo tempo.
terça-feira, 28 de junho de 2016
Partilha
Talvez eu não lhe ame do jeito que você merece ser amado. Assim como, talvez, você não me ame do jeito que eu mereça ser amada. A gente é diferente a beça, a gente sabe. Mas a gente se interessa por umas coisas parecidas, e podia até correr atrás delas juntos. Também sabemos disso.
Eu quero mais de nós. Mas não precisa ser muito mais não, só o suficiente.
E pra mim é suficiente partilhar esse espaço-tempo contigo e ouvir o teu silêncio se enlaçar com o meu. Ver tuas ideias misturarem com as minhas. Falar de coisas tão profundas que a gente esquece do que tá falando e como chegou aqui. Murmurar um segredo tão bobo que chega a ser inesperado. Correr sabendo que mesmo que um se atrase, o prêmio é partilhado. Um admirar o sorriso do outro. Observar a luz do sol contra nossas silhuetas e a aura da lua contra nossas almas. Guardar esses lugares do espaço, do tempo, da memória, do momento, num lugar só nosso. Um se explodir no outro e se reconstituir. Viver mais do que lembrar. Ser e estar em partilha.
Talvez a gente se ame do jeito que merece.
quarta-feira, 22 de junho de 2016
As Mãos
Mostrou-me a face,
Escondeu-me as mãos.
Teu coração em disfarce
Faz da afirmativa um não.
Negastes as marcas,
Disseste que cicatriz não há.
Tuas mentiras são harpas
Desafinadas, lançadas ao mar.
Desapegado o músico
Que não utiliza tal instrumento,
Pois cego no fusco
Não lhe abala o tormento.
Reformas tua alma
E refaz a ação.
Portanto, afines a harpa
E revelas as mãos.
terça-feira, 21 de junho de 2016
Eu vou embora
Se tinha um colo para morrer era muito. Talvez tivesse ficado por piedade, mas ao menos tinha alguém para ouvir seus últimos sussurros. Um amigo, talvez. Não adiantaria lhe contar toda a história, nem mesmo lamentar, mas, mesmo assim, era tudo o que acontecia em sua mente.
Ela o amava de toda a alma e coração. Acreditava que ele a amava também. Talvez não tão intensamente, mas o pouco que ele lhe guardasse, já era o suficiente. Não permaneceram juntos por questões de tempo, de condições, de meios. Ela estava absolutamente errada em insistir. Deveria ir para a forca para pagar minimamente seus pecados.
A esposa dele estava quase para ter seu filho. Todos acreditavam que seria um menino. O esperado. Ele andava tão interessado pela criança, que a pobre moça fora deixada de lado. Despediu-se dela.
Um último beijo. Nem ao menos fora o mais carinhoso dos beijos. O sabor era de piedade. Adeus.
Nunca chegou a lhe contar. Também tinha um menino no ventre. Mas não há quem se importe com o ventre da amante. Ou com o corpo, com a vida ou com o coração.
Não sabia que era possível morrer de tristeza até que seu momento chegou.
Dói muito. Está escuro. Eu vou embora.
E foi.
Ela o amava de toda a alma e coração. Acreditava que ele a amava também. Talvez não tão intensamente, mas o pouco que ele lhe guardasse, já era o suficiente. Não permaneceram juntos por questões de tempo, de condições, de meios. Ela estava absolutamente errada em insistir. Deveria ir para a forca para pagar minimamente seus pecados.
A esposa dele estava quase para ter seu filho. Todos acreditavam que seria um menino. O esperado. Ele andava tão interessado pela criança, que a pobre moça fora deixada de lado. Despediu-se dela.
Um último beijo. Nem ao menos fora o mais carinhoso dos beijos. O sabor era de piedade. Adeus.
Nunca chegou a lhe contar. Também tinha um menino no ventre. Mas não há quem se importe com o ventre da amante. Ou com o corpo, com a vida ou com o coração.
Não sabia que era possível morrer de tristeza até que seu momento chegou.
Dói muito. Está escuro. Eu vou embora.
E foi.
quarta-feira, 1 de junho de 2016
coque e metrô
essa vida de coque e metrô não me pertence
eu vivencio o mundo é com os pés descalços e um vento gostoso no rosto
pertenço aos artistas e não aos mandantes
os ricos acumulam pra viver bem, mas só sobrevivem
os pobres trabalham para sobreviver, e, quando se veem livres, vivem
passo longe da egocentria anciã dos afetados
sorrio para os que trançam suas emoções com eterna alegria juvenil
eu vivencio o mundo é com os pés descalços e um vento gostoso no rosto
pertenço aos artistas e não aos mandantes
os ricos acumulam pra viver bem, mas só sobrevivem
os pobres trabalham para sobreviver, e, quando se veem livres, vivem
passo longe da egocentria anciã dos afetados
sorrio para os que trançam suas emoções com eterna alegria juvenil
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