terça-feira, 21 de junho de 2016

Eu vou embora

    Se tinha um colo para morrer era muito. Talvez tivesse ficado por piedade, mas ao menos tinha alguém para ouvir seus últimos sussurros. Um amigo, talvez. Não adiantaria lhe contar toda a história, nem mesmo lamentar, mas, mesmo assim, era tudo o que acontecia em sua mente.
  Ela o amava de toda a alma e coração. Acreditava que ele a amava também. Talvez não tão intensamente, mas o pouco que ele lhe guardasse, já era o suficiente. Não permaneceram juntos por questões de tempo, de condições, de meios. Ela estava absolutamente errada em insistir. Deveria ir para a forca para pagar minimamente seus pecados.
  A esposa dele estava quase para ter seu filho. Todos acreditavam que seria um menino. O esperado. Ele andava tão interessado pela criança, que a pobre moça fora deixada de lado. Despediu-se dela.
  Um último beijo. Nem ao menos fora o mais carinhoso dos beijos. O sabor era de piedade. Adeus.
  Nunca chegou a lhe contar. Também tinha um menino no ventre. Mas não há quem se importe com o ventre da amante. Ou com o corpo, com a vida ou com o coração.
  Não sabia que era possível morrer de tristeza até que seu momento chegou.
  Dói muito. Está escuro. Eu vou embora.
  E foi.

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